quarta-feira, 30 de março de 2016

A VIDA VERDADEIRA: NOSSA HOMENAGEM A THIAGO DE MELLO

Homenagem ao Poeta Thiago de Mello: "Não tenho caminho novo, o que tenho de novo é o jeito de caminhar!"

Thiago de Mello nasceu no Estado do Amazonas em 1926 e se tornou um dos maiores poetas do Brasil e do mundo, tendo seus poemas traduzidos para mais de 30 idiomas. Mas mais do que isso, Thiago de Mello é um militante social que também é de extrema importância para as lutas dos trabalhadores. Foi preso durante a ditadura justamente por lutar em defesa da democracia.

Em 2014, quando companheiros do PSOL Niterói insistiram para que eu viesse candidato pela primeira vez a vereador da cidade, uma das coisas que me convenceram foi justamente quando um de nossos amigos, Hailton Pinheiro, querido professor e militante social, invocou um poema de Thiago de Mello para me apontar a importância de seguir nossa luta, não mais apenas na nossa comunidade e região, mas também na Câmara em defesa de toda a cidade. 

Foi quando também decidimos adotar como uma das chamadas de incentivo daquela campanha a frase “NÃO TENHO CAMINHO NOVO, O QUE TENHO DE NOVO É O JEITO DE CAMINHAR”. Representando justamente a necessidade que a militância via de que eu colocasse meu nome a disposição da construção de um projeto maior, de valorização do meio ambiente e da cultura popular, para além do Quilombo, do Engenho do Mato e da Serra da Tiririca, sem, no entanto, JAMAIS esquecer essas origens e lutas tão importantes.

E neste dia em que Thiago de Mello faz 90 anos não poderíamos deixar de prestar essa homenagem ao homem que, apesar da idade avançada, ainda representa a luta e a esperança na construção de uma sociedade melhor, mais justa, fraterna e igualitária! Vamos juntos!

Apreciem então esta que é das mais conhecidas poesias do nosso mestre Thiago de Mello:



Pois aqui está a minha vida.
Pronta para ser usada.
Vida que não guarda
nem se esquiva, assustada.
Vida sempre a serviço
da vida.
Para servir ao que vale
a pena e o preço do amor

Ainda que o gesto me doa,
não encolho a mão: avanço
levando um ramo de sol.
Mesmo enrolada de pó,
dentro da noite mais fria,
a vida que vai comigo
é fogo:
está sempre acesa.

Vem da terra dos barrancos

O jeito doce e violento
da minha vida: esse gosto
da água negra transparente.

A vida vai no meu peito,
mas é quem vai me levando:
tição ardente velando,
girassol na escuridão.

Carrego um grito que cresce
Cada vez mais na garganta,
cravando seu travo triste
na verdade do meu canto.

Canto molhado e barrento
de menino do Amazonas
que viu a vida crescer
nos centro da terra firme.
Que sabe a vinda da chuva
pelo estremecer dos verdes
e sabe ler os recados
que chegam na asa do vento.
Mas sabe também o tempo
da febre e o gosto da fome.

Nas águas da minha infância
perdi o medo entre os rebojos.
Por isso avanço cantando
Estou no centro do rio
estou no meio da praça.
Piso firme no meu chão
sei que estou no meu lugar,
como a panela no fogo
e a estrela na escuridão.

O que passou não conta ?, indagarão
as bocas desprovidas.
Não deixa de valer nunca.
que passou ensina
com sua garra e seu mel.

Por isso é que agora vou assim
no meu caminho. Publicamente andando
Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.
Aprendi
(o que o caminho me ensinou)
a caminhar cantando
como convém
a mim
e aos vão comigo.
Pois já não vou mais sozinho.

Aqui tenho a minha vida:
feita à imagem do menino
que continua varando
os campos gerais
e que reparte o seu canto
como o seu avô
repartia o cacau
e fazia da colheita
uma ilha do bom socorro.

Feita à imagem do menino
mas a semelhança do homem:
com tudo que ele tem de primavera
de valente esperança e rebeldia.

Vida, casa encantada,
onde eu moro e mora em mim,
te quero assim verdadeira
cheirando a manga e jasmim.
Que me sejas deslumbrada
como ternura de moça
rolando sobre o capim.

Vida, toalha limpa
vida posta na mesa,
vida brasa vigilante
vida pedra e espuma
alçapão de amapolas,
sol dentro do mar,
estrume e rosa do amor:
a vida.

Há que merecê-la


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