Homenagem ao Poeta Thiago de Mello: "Não tenho caminho novo, o que tenho de novo é o jeito de caminhar!" |
Thiago de Mello nasceu no Estado do Amazonas em 1926 e se
tornou um dos maiores poetas do Brasil e do mundo, tendo seus poemas traduzidos
para mais de 30 idiomas. Mas mais do que isso, Thiago de Mello é um militante
social que também é de extrema importância para as lutas dos trabalhadores. Foi
preso durante a ditadura justamente por lutar em defesa da democracia.
Em 2014, quando companheiros do PSOL Niterói insistiram para
que eu viesse candidato pela primeira vez a vereador da cidade, uma das coisas
que me convenceram foi justamente quando um de nossos amigos, Hailton Pinheiro,
querido professor e militante social, invocou um poema de Thiago de Mello para
me apontar a importância de seguir nossa luta, não mais apenas na nossa
comunidade e região, mas também na Câmara em defesa de toda a cidade.
Foi
quando também decidimos adotar como uma das chamadas de incentivo daquela
campanha a frase “NÃO TENHO CAMINHO NOVO, O QUE TENHO DE NOVO É O JEITO DE
CAMINHAR”. Representando justamente a necessidade que a militância via de que
eu colocasse meu nome a disposição da construção de um projeto maior, de
valorização do meio ambiente e da cultura popular, para além do Quilombo, do
Engenho do Mato e da Serra da Tiririca, sem, no entanto, JAMAIS esquecer essas
origens e lutas tão importantes.
E neste dia em que Thiago de Mello faz 90 anos não
poderíamos deixar de prestar essa homenagem ao homem que, apesar da idade
avançada, ainda representa a luta e a esperança na construção de uma sociedade
melhor, mais justa, fraterna e igualitária! Vamos juntos!
Apreciem então esta que é das mais conhecidas poesias do
nosso mestre Thiago de Mello:
Pois aqui está a minha vida.
Pronta para ser usada.
Vida que não guarda
nem se esquiva, assustada.
Vida sempre a serviço
da vida.
Para servir ao que vale
a pena e o preço do amor
Ainda que o gesto me doa,
não encolho a mão: avanço
levando um ramo de sol.
Mesmo enrolada de pó,
dentro da noite mais fria,
a vida que vai comigo
é fogo:
está sempre acesa.
Vem da terra dos barrancos
O jeito doce e violento
da minha vida: esse gosto
da água negra transparente.
A vida vai no meu peito,
mas é quem vai me levando:
tição ardente velando,
girassol na escuridão.
Carrego um grito que cresce
Cada vez mais na garganta,
cravando seu travo triste
na verdade do meu canto.
Canto molhado e barrento
de menino do Amazonas
que viu a vida crescer
nos centro da terra firme.
Que sabe a vinda da chuva
pelo estremecer dos verdes
e sabe ler os recados
que chegam na asa do vento.
Mas sabe também o tempo
da febre e o gosto da fome.
Nas águas da minha infância
perdi o medo entre os rebojos.
Por isso avanço cantando
Estou no centro do rio
estou no meio da praça.
Piso firme no meu chão
sei que estou no meu lugar,
como a panela no fogo
e a estrela na escuridão.
O que passou não conta ?, indagarão
as bocas desprovidas.
Não deixa de valer nunca.
que passou ensina
com sua garra e seu mel.
Por isso é que agora vou assim
no meu caminho. Publicamente andando
Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.
Aprendi
(o que o caminho me ensinou)
a caminhar cantando
como convém
a mim
e aos vão comigo.
Pois já não vou mais sozinho.
Aqui tenho a minha vida:
feita à imagem do menino
que continua varando
os campos gerais
e que reparte o seu canto
como o seu avô
repartia o cacau
e fazia da colheita
uma ilha do bom socorro.
Feita à imagem do menino
mas a semelhança do homem:
com tudo que ele tem de primavera
de valente esperança e rebeldia.
Vida, casa encantada,
onde eu moro e mora em mim,
te quero assim verdadeira
cheirando a manga e jasmim.
Que me sejas deslumbrada
como ternura de moça
rolando sobre o capim.
Vida, toalha limpa
vida posta na mesa,
vida brasa vigilante
vida pedra e espuma
alçapão de amapolas,
sol dentro do mar,
estrume e rosa do amor:
a vida.
Há que merecê-la
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